“Trabalhar formação de mulheres é trabalhar a autonomia de mulheres”
“Trabalhar formação de mulheres é trabalhar a autonomia de mulheres”

“Trabalhar formação de mulheres é trabalhar a autonomia de mulheres”

Por Indinayara Francielle Batista Gouveia
Editado por Indinayara Francielle Batista Gouveia

Publicado em 1 de Setembro de 2017 às 10:40

Oficina realizada em Montes Claros incentivou o empoderamento de mulheres do Cerrado e da Caatinga

Historicamente, a mulher sempre foi pressionada pela sociedade a seguir a lógica do sistema patriarcal, sendo submetida a estereótipos e a papeis que reforcem a sua submissão ao homem, fortalecendo relações sociais de desigualdade. Ao longo dos anos, essa realidade vem sendo desestruturada, mas ainda há muito que se fazer para romper com esse problema que está na base da formação de diversos países, como o Brasil. É necessário estimular a autonomia das mulheres, para que, organizadas, possam ir à contramão desse processo. Essa é uma das alternativas para alcançar um mundo com respeito à igualdade de direitos.

“Trabalhar formação de mulheres é trabalhar a autonomia de mulheres”, a afirmação feita por Beth Cardoso, do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA) e coordenadora do GT Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia, reforça a importância de fortalecer autossuficiência das mulheres e representa parte do que foi abordado na "Oficina Sobre Gênero e Elaboração de Projetos", que aconteceu entre os dias 22 e 26 de agosto, na Área de Experimentação e Formação em Agroecologia (AEFA), localizada em Montes Claros. O momento foi organizado pela Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), em parceria com a agencia de cooperação internacional HEKS-EPER e contou com o apoio do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA/NM).

Olga Matos, da CESE, explica que a oficina buscou trabalhar as relações sociais de gênero e elaboração de projetos numa perspectiva de contribuir com os grupos e organizações de mulheres, e também com mulheres que estão em organizações mistas. Para ela, a oficina visa "aprofundar o entendimento, a concepção, a percepção de como as relações de gênero, juntamente com as questões de classe e de raça, estruturam as desigualdades aqui no Brasil e no mundo na verdade, como também contribuir para o fortalecimento de suas capacidades na elaboração de um projeto, e percebendo sempre de que maneira pode se observar as questões de gênero na hora de formular suas propostas”.

Os dois primeiros dias de encontro foram voltados para discussões e reflexões. Carmen Silva, da SOS Corpo - Instituto Feminista para Democracia, explica a importância do espaço para reconhecer a desigualdade de gênero. “É um espaço importante para reconhecer que o sistema patriarcal está articulado ao capitalismo e ao racismo na nossa formação social brasileira e com isso pensar que nossas estratégias precisam ser capazes de mudar nossas vidas, melhorar nossa renda, nossa produção, de conseguir comercializar, mas que também precisamos ser capazes de promover fissuras nesse sistema e de alterar as condições mais gerais de estruturação da sociedade”, explica.

Andreia Ferreira dos Santos, da Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas (Codecex), conta que, na comunidade quilombola de Raiz, a discussão de gênero se faz presente e a participação da mulher em todos os tipos de atividade é muito forte. No entanto, para a jovem ainda falta reconhecimento do papel exercido pelas mulheres. “Na serra a gente percebe que a questão de gênero é muito forte, mas ela não é assim muito direcionada. As mulheres fazem todos os trabalhos, apanha flor, cuida da casa, cuida dos filhos, estuda, e na maioria das associações são as mulheres que são presidentes, mas ainda há a questão da desvalorização da mulher. A gente avançou muito, mas não somos reconhecidas”, revela.

A oficina contou com a participação de mulheres de diversas localidades. Para Olga Matos, as trocas de experiências possibilitam perceber semelhanças e uma luta que é unificada: “Foi super interessante observar como esse conjunto de mulheres enfrentam muitos problemas que são comuns a todas elas e a gente imagina que seja comum a muitas outras mulheres, não só mulheres do campo, mas também da cidade. Ao mesmo tempo, perceber também a capacidade e a força das mulheres nos processos de resistência a essas violações de direitos, a esses retrocessos nas políticas que impactam diretamente na vida delas, aos avanços também bastante nefastos dos grandes conglomerados econômicos que estão aí representados pelas mineradoras, pelo agronegócio, por uma série de empresas que acabam trabalhando com muito agrotóxico e prejudicando não só a vidas das pessoas, mas também o meio ambiente e o futuro das gerações”.

Myrlene Pereira, da Cáritas Januária, conta que participar do encontro possibilitou troca de experiências com mulheres de diversas regiões e reforça o anseio de uma sociedade mais equitativa: “O encontro é muito produtivo, são muitas experiências de resistência e organização das mulheres exitosas mostrando o avanço da articulação e da participação feminina em muitos tipos de instituições, não só grupos organizados unicamente com participação de mulheres, mas também a inserção de mulheres em grupos mistos. Ver esse avanço e essa organização qualificada tem sido muito gratificante”.

Elaboração de projetos

Os dois últimos dias de encontro foram dedicados a elaboração de projetos, iniciativa importante para garantir a independência das mulheres nas suas frentes de trabalho, como explica Eliad Gisele, jovem da Codecex: “Geralmente, quem faz tudo isso são os homens, eles que decidem, e quando você vê mulheres elaborando projetos, decidindo coisas para a comunidade, é super importante”.

A organização das mulheres frente aos processos da comunidade é uma das entradas do caminho para uma sociedade mais igualitária. Joeliza Brito, da diretoria do CAA/NM, acredita que outro destaque que pode ser percebido durante a oficina, foi a união das mulheres em busca do bem viver coletivo: “É um espaço muito rico, onde trazemos as mulheres para poderem participar, aprender e divulgar para os outros grupos. Tenho percebido um desempenho das mulheres e uma força de vontade delas de adquirir recursos para apoiar os grupos. O mais importante disso é que elas não falam em nome delas, falam em nome de todas, há uma preocupação com todo grupo, e isso demonstra um compromisso e uma responsabilidade muito grande”.

Roda de conversa

Na noite do dia 23, foi realizada uma roda de conversa sobre "Resistência das Mulheres no Cerrado e na Caatinga", na sede do CAA/NM, no Solar dos Sertões. Foram apresentadas as conquistas da luta da mulher do campo, e discutidas as formas de enfrentamento dessas frente ao contexto de governo ilegítimo. A atividade foi aberta ao público em geral e o debate foi animado pelos tambores de Fabiana Lima e Bruno Andrade.

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