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Solidariedade como resistência à fome: ação do MST com o CAA NM beneficia mais de 400 famílias em Montes Claros

Publicado em 28 de Abril de 2021 às 14:50

Solidariedade como resistência à fome: ação do MST com o CAA NM beneficia mais de 400 famílias em Montes Claros

 

 

A fome sempre foi um problema social que perdurou no Brasil. Em 2004, brasileiras e brasileiros tiveram a oportunidade de ver a mudança desse cenário no país. Pela primeira vez, o Brasil saiu do Mapa da Fome Mundial. A potência da ação que se desdobrou nesse momento através da implementação de políticas sociais para a população em vulnerabilidade social possibilitou que brasileiras e brasileiros tivessem acesso à alimentação diariamente. Após 17 anos, os avanços alcançados no combate à fome no decorrer de anos sofreu retrocesso em meio a crise econômica. Desde o início da pandemia da Covid-19, a insegurança alimentar  tem afetado 116 milhões de pessoas da população brasileira, de acordo com a análise da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (2020). Desse percentual, a pesquisa aponta que a linha de pobreza extrema é ocupada por mulheres negras, com baixa escolaridade e moradoras de áreas da periferia. As regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas no território nacional, de modo que o índice de insegurança alimentar afeta acima de 60% dessa população.


 

Em Montes Claros, Norte de Minas Gerais, a Pastoral do Munícipio aponta que 15 mil pessoas estão em precariedade social e passam fome, o que representa cerca de 4% da população local. Com o objetivo de mediar esse contexto, no dia 18 de abril o MST (Movimento dos Sem Terra) em parceria com o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas e a Articulação Rosalino Gomes realizou a coleta e distribuição de cerca de 4,8 toneladas de alimentos agroecológicos para famílias em seis bairros montes-clarenses: Camilo Prates, Facela, Maracanã, Vila Atlântida, Independência e Santo Amaro. 

A solidariedade de diversas famílias assentadas no MST do Norte de Minas Gerais possibilitou que a ação oferecesse cestas com uma enorme diversidade de alimentos. “Abacaxi, limão, mandioca, mamão, feijão, abóbora”. João Renato, aos seus 6 anos, consegue descrever parte dos cultivos que são colhidos por ele no seu quintal. Ali, no Assentamento Eloy Ferreira, ao lado do pai, Renato, ele aponta os sacos de mandioca que foram colhidos para a doação pelo avô com a sua ajuda. De acordo com Renato, a importância dessa ação se encontra na possibilidade de tornar coletivo um dos princípios do MST: solidariedade e partilha. “Eu fico muito feliz em saber que esse alimento vai chegar em famílias que estão passando fome”, ele afirma.

Essa ação marca a data do Abril Vermelho, que traz à memória o Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, onde 21 trabalhadores rurais foram assassinados em área de assentamento por policiais. O coordenador regional do MST, Samuel Costa, pontua que a ação busca partilhar a solidariedade, através da doação de alimentos, durante esse momento de crise econômica. “É um princípio nosso compartilhar, muitas famílias aqui já vivenciaram a fome, e hoje, depois de lutar e ocupar um pedaço de terra elas podem partilhar os alimentos com aqueles que precisam nesse momento”, afirma Samuel. No assentamento Eloy Ferreira, localizado próximo a Engenheiro Navarro (MG), mais de 10 famílias contribuíram com doação de alimentos. “Sempre que a gente pode, a gente tá doando”. A fala de Joana Ferreira, 54 anos, expressa um sentimento coletivo entre os assentados que congrega a ideia de que não basta ter a terra, é preciso cultivá-la para alimentar aqueles que precisam de comida".


Esse princípio que vê na soberania alimentar dos povos tradicionais um gesto de resistência norteia as ações da Área de Experimentação e Formação em Agroecologia (AEFA) do CAA NM, parceiro na realização dessa ação. Entre as várias frentes de atuação, a AEFA realiza a experimentação, pesquisa e difusão do aprimoramento da produção dos povos tradicionais nos territórios. Para incentivar a soberania alimentar dessas comunidades, um banco de sementes crioulas é mantido na Área de Experimentação, através do apoio de diversos guardiões de sementes do Norte de Minas Gerais. De acordo com Daniel Costa, técnico do CAA, no decorrer de três dias, para apoiar a ação da distribuição das cestas agroecológicas, o Centro de Agricultura Alternativa deu o suporte logístico ao MST na coleta dos produtos, ensacamento dos alimentos e distribuição para as famílias em Montes Claros.

Entre os beneficiados, a moradora do bairro Santo Amaro, Luciana Ribeiro, 36 anos, fala sobre a gratidão de poder receber essa cesta. “Nesse momento que estamos passando com muitas famílias desempregadas e necessitadas, a nossa renda é curta já que o auxílio diminuiu, então veio em uma boa hora”, ela afirma. Além dela, cerca de 400 famílias receberam as cestas com alimentos agroecológicos. Para Samuel Caetano, articulador de redes do CAA NM, afirma que ações dessa natureza demonstram que a terra na mão de quem há de a ver como mãe, consegue cumprir sua função social que é produzir alimentos, comida de verdade, alimentos que nutrem e trazem energia vital, a diversidade nas doações mostra quão diversos são os quintais dos agricultores e agricultoras familiares, povos e comunidades tradicionais. “A lição que fica, é que o modo de vida dos povos e comunidades tradicionais do campo, certamente é o unguento para curar os males do planeta que afeta diretamente a “humanidade” de forma geral”, ele afirma.









 


Postado por: SARAH GONÇALVES FERREIRA
Editado por: Luciano Santos Dayrell