Sabedoria camponesa na universidade
Sabedoria camponesa na universidade

Sabedoria camponesa na universidade

Por Indinayara Francielle Batista Gouveia

Publicado em 6 de Novembro de 2018 às 16:17

Braulino Caetano, geraizeiro semi-analfabeto que vivenciou a escravidão, participa de seminário no Programa de Pós-Graduação associado UFMG/Unimontes em Sociedade Ambiente e Território. Dentre as várias questões, abordou sobre a criação do CAA-NM, o reconhecimento dos povos e comunidades tradicionais e o papel da educação no atual contexto político  do Brasil.

A tarde do dia 23 de outubro foi marcada pela partilha de histórias de vida, resistência e sabedoria. Estudantes da Unimontes e da UFMG participaram de seminário “ De escravizado a lutador pela justiça, sustentabilidade e dignidade dos povos do Cerrado”,  promovido pelo  Programa de Pós-Graduação associado UFMG/Unimontes em Sociedade Ambiente e Território.  

Braulino Caetano dos Santos nasceu na zona rural de Montes Claros. Viveu a experiência da escravidão ao trabalhar por mais de 20 anos em uma fazenda, tendo como pagamento somente a comida. Foi através da participação no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Montes Claros que tomou consciência dos seus direitos, se inseriu na organização e contribuiu para importantes conquistas da classe trabalhadora no Norte de Minas e no Brasil. Participou, por exemplo, do processo de sistematização da Constituição Federal de 1988, da criação da Rede Cerrado (que reúne ONGs de todo o bioma) durante a ECO 92 e da formulação da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais, onde assumiu a representação dos geraizeiros na Comissão Nacional. Sobre esses processos históricos, apontou que “o que resolve é ter um objetivo de luta. Da união que nasce a força”.

Durante o seminário, Braulino percorreu sua trajetória, onde destacou conquistas e desafios. Abordou sobre a criação do CAA-NM e seu papel regional e nacional. “ O CAA-NM é uma entidade de apoio, que contribuiu para a formação de lideranças no Norte de Minas, pessoas que hoje são vereadores, prefeitos, sindicalistas, trabalham em vários locais. Uma luta nossa. Além do reconhecimento de todas as identidades dos povos do Norte de Minas (nós trabalhamos com sete povos), o reconhecimento de uma diversidade”.  

Outra questão destacada por ele foi quanto ao papel do CAA, de ajudar a construir alternativas técnicas junto aos geraizeiros para manter o “cerrado em pé”. “ A nossa assessoria técnica ajudou muitos agricultores a produzir com agroecologia e a Cooperativa Grande Sertão, que é filha do CAA, onde muitos caboclos produzem, coletam os frutos do Cerrado e hoje tem um incentivo a mais para sobreviver na roça. E a deixar de pensar no carvão como a melhor alternativa. Porque hoje o Cerrado em pé é muito mais importante do que o Cerrado derrubado”.

Ao fazer um balanço sobre as conquistas e maiores desafios dos povos e comunidades tradicionais do Norte de Minas, Braulino é categórico ao afirmar que as maiores conquistas foram o reconhecimento dos povos e a conquista dos territórios. “ Os povos da região toda vida foram expulsos das suas terras com a chegada das fazendas, dos parques, da irrigação. E não eram conhecidos, ninguém sabia por exemplo quem eram os vazanteiros, esses povos que vivem na vazante do rio São Francisco, nem os veredeiros das veredas, nem os geraizeiros que são dos Gerais. E também os negros aqui do Norte de Minas que vão até o sul da Bahia, negro sofrido. Se você pega do assentamento Tapera que é geraizeiro, a Vereda Funda, primeiro assentamento agroextrativista, as terras indígenas, quilombolas, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Nascentes Geraizeiras vai vendo que a gente foi tendo essas conquistas”. Como desafio aponta a gestão destes territórios e a unificação de lutas para continuar atingindo os objetivos comuns.

Sobre o atual contexto político em Minas Gerais e no Brasil, aponta que o desafio é a organização para contrapor o projeto que está sendo apontado como solução. “ Minas Gerais está na virada de um abismo. Fico com medo de tudo que estamos construindo virar de agua abaixo. Se o povo se organizar, nós somos maioria. Se a gente tiver unido, conseguimos fazer ouvir. Principalmente a juventude e os estudantes que tem mostrado a sua força”.

Para o geraizeiro a educação é a verdadeira ferramenta da transformação social. “ Só através da educação conseguimos vencer todas as batalhas. A juventude de hoje precisa estudar para o bem comum. Tem muita necessidade de melhorar a consciência e construir um projeto sadio para todos. Só assim nós vamos conseguir vencer.”, finaliza.

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