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Movimento Geraizeiro e Articulação Rosalino Gomes realizam Oficina de Direitos Territoriais

Publicado em 31 de Outubro de 2017 às 17:21

Movimento Geraizeiro e Articulação Rosalino Gomes realizam Oficina de Direitos Territoriais

Lideranças do Movimento Geraizeiro e da Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais se reuniram com representantes de comunidades dos municípios de Rubelita, Novo Horizonte, Berizal, São João do Paraíso e Rio Pardo de Minas, nos dias 27 e 28 de outubro, durante Oficina de Direitos Territoriais. A atividade foi realizada na casa de Seu Adão e Dona Maria Pereira Oliveira, geraizeiros da Comunidade de Jacú, município de Rubelita, na região do Alto Rio Pardo. Quem conduziu a oficina foi Carlos Alberto Dayrell, pesquisador do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM) e doutorando no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Social (PPGDS) da Unimontes, com o apoio de Sérgio Leandro Sousa Neves, também doutorando no PPGDS e professor do IFNMG.

“A escassez de água em Rubelita e seu entorno está cada vez maior. A mineração e a monocultura de eucalipto estão destruindo o nosso Cerrado, as nossas nascentes, o nosso Gerais, o nosso povo. E somos perseguidos por defender as nossas raízes, as nossas naturezas, que têm muito valor”, queixou-se Seu Adão. “Fiz esse convite às comunidades pra apresentar o histórico de lutas do Movimento Geraizeiro e tomar decisões em conjunto”, acrescentou.

Maria Aparecida, mais conhecida como Cida, liderança do Movimento Geraizeiro e da Articulação Rosalino, relatou que, na sua comunidade, Fazenda Bom Jesus, município de São João do Paraíso, ainda tem muita plantação de eucalipto, mas que nas áreas abandonadas já é possível identificar processos de regeneração da fauna e flora nativas. “A gente quer ver o Cerrado crescer, as nascentes voltarem a minerar águas, a gente quer contribuir dessa forma, esse é o nosso desejo, o nosso sonho”, declarou.

O geraizeiro da Comunidade de Pindaíba, município de Rio Pardo de Minas, e diretor-geral do CAA-NM, Eliseu José de Oliveira, também participou da atividade e lembrou que, depois dos anos 80, o Governo Militar, por meio da Ruralminas, tomou as terras do povo e destinou-as a empresas através de contratos de arrendamento com prazo determinado. E que, após esse período, o Estado tem a opção de destinar o terreno para o setor privado ou não.

Eliseu ainda reforçou que a luta pela retomada das terras deve ser unificada e com vistas ao bem comum: “Quando reconquistamos o território, temos que fazer um plano de uso de áreas coletivas e individuais. A propriedade de cada pessoa continua sendo de cada uma. A soma das posses forma o território. Por sua vez, a parte que pertence ao Estado pode ser usada pelo povo para uso comum”. Ele ainda sublinha que “a luta é pela retomada do território tradicional de um povo tradicional que se identifica como Geraizeiro, e não lutas individuais por porções de terras herdadas”.

Orlando dos Santos, geraizeiro da Comunidade Cabeceira de Macaúba, município de Novo Horizonte, integrante da Comissão Estadual de Povos e Comunidades Tradicionais e liderança do Movimento Geraizeiro e da Articulação Rosalino, endossou a fala de Eliseu: “O lema do movimento é ‘A dor de um é a dor de todos’, então o nosso objetivo também é um só, todos aqui têm a mesma demanda”.

Autodemarcação

Além do momento de apresentação do histórico de lutas e dos problemas enfrentados pelas comunidades, a oficina ainda incluiu o planejamento da autodemarcação do território, uma demanda antiga do Movimento Geraizeiro. “Há dois anos, durante a Conferência Geraizeira realizada em Rio Pardo de Minas, foi levantada essa demanda pelo Seu Adão, que relatou os problemas trazidos pela monocultura do eucalipto e o processo de expropriação territorial sofrido por sua comunidade e as do entorno”, contou Carlos Alberto Dayrell. “Assim, estamos iniciando uma discussão acerca dos direitos territoriais das comunidades e da realidade de vida das pessoas daqui, pra podermos desenvolver um planejamento de mapeamento de cartografia social”, completou.

Orlando dos Santos revelou que muitas comunidades não conheciam os seus territórios e que a autodemarcação é o primeiro passo para a reconquista de terras. “A gente tem o compromisso de defender essas comunidades e os territórios que elas perderam para a grilagem. O Estado foi cúmplice dessa situação e tem que ser responsabilizado por isso, pela selvageria que fizeram com as pessoas”, disse. “E pra nós é uma honra participar dessa oficina, que não é a primeira e também não será a última. Nós vamos continuar apoiando todas as comunidades com o apoio do CAA-NM, da Unimontes, da Articulação Rosalino e várias outras entidades que vêm nos assessorando”, concluiu.

Movimento Geraizeiro

A missão do Movimento Geraizeiro é a luta pelo reconhecimento e valorização social dos geraizeiros enquanto guardiões do Cerrado contra os interesses do capital, por meio da reconquista, ocupação, defesa e gestão de seus territórios, do fortalecimento da identidade, educação e cultura geraizeira em toda a sua diversidade, de modo a garantir vida digna, o desenvolvimento e a autonomia de suas comunidades, no pleno exercício dos direitos humanos. Nessa perspectiva, tem ainda por intuito promover a solidariedade e união entre as comunidades geraizeiras, na luta por seus territórios e culturas, bem como estimular a produção sustentável de alimentos saudáveis e fomentar a medicina popular geraizeira, por meio do manejo agroecológico e agroextrativista.

Articulação Rosalino Gomes

A Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais se consolida hoje como espaço de articulação e de construção de alianças envolvendo a diversidade tradicional da região do Norte de Minas e Alto Vale do Jequitinhonha. Participam desta articulação os indígenas dos territórios Xakriabá e Tuxá, comunidades Quilombolas, Geraizeiras, Vazanteiras, Veredeiras, Catingueiras e Apanhadoras de Flores.


Postado por: Paula Lanza Barbosa
Editado por: Paula Lanza Barbosa