Guardiões e guardiãs da Agrobiodiversidade planejam ações políticas e produtivas para 2017
Guardiões e guardiãs da Agrobiodiversidade planejam ações políticas e produtivas para 2017

Guardiões e guardiãs da Agrobiodiversidade planejam ações políticas e produtivas para 2017

Por Cibelih Hespanhol Torres
Editado por Cibelih Hespanhol Torres

Publicado em 8 de Fevereiro de 2017 às 17:06

Texto: Helen Santa Rosa

Na chegada, o costumeiro café da manhã, o abraço, a acolhida, o colocar a conversa em dia. Preocupações com a chuva, com a safra, os frutos do Cerrado e da Caatinga, com os animais. Guardiões e guardiãs da agrobiodiversidade, representantes dos 5 territórios do Norte de Minas, trazem em comum as preocupações e os compromissos. A primeira reunião do ano de 2017 ocorreu na Área de Experimentação e Formação em Agroecologia nos dias 26 e 27 de janeiro, com o objetivo de consolidar uma rede de guardiões e guardiãs da agrobiodiversidade, analisar o atual contexto socioeconômico, político e ambiental, e, diante deste cenário, planejar ações para o ano de 2017.


Já no início da reunião, Cristovino Ferreira Neto, geraizeiro e guardião da agrobiodiversidade do Assentamento Americana, chama atenção quanto a elementos da realidade climática e ambiental: “Estamos caminhando para o sexto ano de seca, observando que o clima está mudando e a temperatura aumentando. Se não mudarmos a nossa cultura alimentar, vamos ter muita dificuldade. Nós temos espécies e variedades como o feijão carioca, que todo agricultor quer plantar mas que a flor exige a chuva certa, que se não vier perde rápido”. Sobre os costumes do passado, reforça que “a troca que existia entre os agricultores enriquecia muito a alimentação e a produção. Eu via meu pai trocar feijão por fava. A gente trocava por alqueire e aumentava o alimento um dos outros, completando o que não conseguia produzir. E trocava rapadura, farinha, tudo de acordo com a necessidade”. 


A conversa aconteceu em forma de roda. Na medida em que um falava, o outro complementava com elementos do seu aprendizado. Aos técnicos e técnicas do CAA-NM presentes cabia apenas ouvir, aprender e, em poucos momentos, contribuir na sistematização das propostas e encaminhamentos. Coletivamente, construíram o conceito de Rede e discutiram objetivos e ações para o ano de 2017. Seu Edinam da Silva, guardião da comunidade de João Congo, município de Varzelândia, lembra que o atual contexto exige que os guardiões conheçam cada vez mais suas sementes, para provar que são as espécies crioulas as mais adaptadas ao contexto climático. “Eu sei falar das minhas variedades de feijão: a que produz mais rápido, a que pede menos água. Eu fui observando e anotando, e hoje eu sei informar. Esse momento que a gente vive pede que a gente seja cada vez mais pesquisador”. Joeliza Almeida, diretora secretária do CAA-NM, lembra que a observação do comportamento das sementes é fundamental para perceber sua adaptação e multiplicar aquelas mais resistentes. 


“A inconstância do tempo, a pouca chuva tem dificultado muito a pesquisa e o registro da produção das sementes”, alerta Geraldo Gomes, guardião e colecionador de sementes crioulas da comunidade do Touro, município de Serranópolis. Geraldo, que tem mais de 70 variedades de feijão e 15 de milho, e outras dezenas de mandioca e abóbora, tem como prática implantar campos de reprodução e salvaguarda de sementes. “Por causa do clima, tá diminuindo o número de pessoas que plantam. Primeiro é preciso preocupar em ter formas de produzir”, afirma. Cristovino completa com outra preocupação: “é importante estar atento para as leis de sementes e o que interessa ao mercado. É importante ficar muito atento. Existe interesse por trás”. Um debate forte foi quanto ao sentido de formar e fortalecer uma Rede só de guardiões. Todos reconheceram que os momentos de intercâmbio são fundamentais para a formação dos guardiões, que através deles conhecem realidades que partilham das mesmas histórias e resistências. 


Encaminhamentos - O planejamento realizado pela Rede de Guardiões e Guardiãs da Agrobiodiversidade mescla ações de formação, articulação e pressão política. Foram planejadas ações de diagnóstico, mobilização e formação nas 16 casas de sementes do Norte de Minas e sua articulação com a Casa de Semente Regional localizada na AEFA; testes de germinação para implantação de campos de reprodução das sementes; campanhas de confirmação das Casas de Sementes como espaço Livres de Transgênicos e discussão do próximo Encontro de Agrobiodiversidade do Semiárido Mineiro que acontecerá no Norte de Minas.


Para Elisângela Aquino, a Lô, guardiã geraizeira e animadora da Rede de Guardiões, a atividade foi um momento muito rico de reflexão e motivação. “Apesar de estarmos vivendo um momento difícil de seca, perda de direitos e mudanças climáticas, é como se renovasse as esperanças de dias melhores. A gente vê que não existe uma luta isolada, ela está nos cincos núcleos, no território norte-mineiro. Volto para as comunidades com muito mais vontade de continuar fazer a luta em comum” . E complementa: “ a gente sabe que a semente é uma parte do conjunto da agrobiodiversidade, que ela tem sido muito perdida em questão das mudanças climáticas. Por outro lado, quando reunimos vemos que temos uma grande riqueza. E a maior delas é a esperança, a peleja, que não morre, sempre renova”.

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