Entre os dias 14 a 16 de maio, representantes dos sete povos que compõem a Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha – veredeiros, vazanteiros, quilombolas, indígenas, caatingueiros, geraizeiros e apanhadores de flores sempre viva – se reuniram juntamente com CNPCT, Heks, Via Campesina, CAA, CIMI, PPDGS/NIISA e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Pardo de Minas na comunidade de Sobrado, em Rio Pardo de Minas. Os dias de reunião permitiram resgate de histórias, afirmação de identidades, debate de agendas e planejamento de ações.
Em meio ao batuque e à alegria de estarem reunidos na luta e na amizade, as lideranças lembraram-se de momentos em que perceberam a força da Articulação Rosalino, representação política que unifica lutas sociais dos povos:
"No começo, a gente tinha medo [desta união]. Mas na hora de se envolver, no movimento, o calor passou de uma pessoa para outra e já saiu batendo o batuque. E misturou de um jeito que não vai parar mais"
Cícero Lima, Vazanteiro.
"A gente viu que a nossa luta era a luta dos outros povos também. Rosalino, Movimento Geraizeiro, Vazanteiros... Então a gente fechou, e estamos aí na mesma luta"
Eliad Gisele, Apanhadora de flor
"Antes, a responsabilidade dos movimentos ficava só com caciques e lideranças. Com a Rosalino, a responsabilidade está sendo dividida com jovens também, e para nós é uma honra. Todos povos são diferentes, mas lutam pelo mesmo objetivo: demarcação de terra, direitos constituintes, preservação ambiental"
Mykaelly Andrade, Indígena Xakriabá
"Desde que a gente começou neste movimento da Rosalino, a gente ficou conhecido e começou a ter mais respeito. Onde chegamos, o povo já conhece. Agradecemos o apoio da Articulação, que está em todos os espaços"
Gilberto Nunes, Quilombo de Praia
"Lembro do encontro de 2011, no Centro Cultural, quando escolhemos o nome da Rosalino, que é um cacique da nossa região que foi assassinado em conflito com fazendeiros. Está é uma forma da Rosalino de recontar a história, e muitas coisas que foram destruídas da década de 60 para cá"
Deyvisson Batista, Caatingueiro
"A gente começou essa parceria muito boa e muito forte com a Rosalino, no trabalho pela Casa de Sementes. Lutamos para preservar o ambiente e resgatar nossa cultura. Através da Rosalino aprendemos sobre parceiras de luta".
Jaime Alves, Veredeiro
"A Rosalino é uma frente de luta. A gente, do Movimento Geraizeiro, já vinha fazendo nossa frente de luta, e fortalecemos através da Rosalino. Antes, a gente via vazanteiro lutando isolado, geraizeiro lutando isolado, e hoje não é mais assim. Estamos juntos". Orlando dos Santos, Geraizeiro
Um dos pontos principais da reunião foi o debate acerca da Declaração sobre direitos dos camponeses e outras pessoas que trabalham nas zonas rurais, da Organização das Nações Unidas (ONU). Ainda em processo de construção, a Declaração teve artigos debatidos pela Rosalino, que em Carta enviada à Via Campesina levanta dúvidas e proposições no intuito de fortalecer a representação dos povos e comunidades tradicionais no documento.
Ainda assim, a Rosalino entende que a Declaração fortalece o conceito de território, por meio da garantia de direitos associados como a biodiversidade, além de representar uma possibilidade de aliança internacional do campesinato em prol de uma sociedade de Bem Viver. A Declaração firma os direitos à posse da terra, soberania alimentar, reconhecimento e proteção cultural, dentre outros, colocando-se como mais um dispositivo legal a ser acionado pelos povos em suas reivindicações, como a Constituição Federal de 1988 e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.
