Casas de sementes preservam a (agro)biodiversidade do Norte de Minas
Casas de sementes preservam a (agro)biodiversidade do Norte de Minas

Casas de sementes preservam a (agro)biodiversidade do Norte de Minas

Por Helen Dayane Rodrigues Santa Rosa

Publicado em 25 de Junho de 2015 às 17:08

Com incentivos para o uso de sementes modificadas, ao invés de variedades locais, por ações governamentais ou por empresas privadas, a partir dos anos 1990 a agrobiodiversidade do Norte de Minas Gerais entrou em risco. O uso de sementes alteradas geneticamente fez com que muitas espécies e variedades tradicionais da região se perdessem, gerando a necessidade de garantir a manutenção e preservação das sementes tradicionais.

Segundo a agrônoma Anna Crystina Alvarenga, preservar as sementes da região garante autonomia e preservação histórica e cultural: “As sementes crioulas, em Minas Gerais chamadas de Sementes da Gente, sãoa base da autonomia dos agricultores e agricultoras, povos e comunidades tradicionais. Junto com a garantia do Território e da água, a garantia dessas sementes é um fator crucial para o fortalecimento da agricultura e da produção de alimentos de forma sustentá- vel e agroecológica. As sementes crioulas fazem parte da vida e da cultura dos povos tradicionais, elas trazem a história das comunidades e das famílias.”, disse Anna, que aponta as Casas de Sementes Comunitárias como uma das principais estratégias para garantir que as sementes tradicionais do Norte de Minas sejam preservadas.

As Casas de Sementes Comunitárias partem do princípio de conhecer e valorizar as sementes da região para armazená-las, selecioná-las, distribui-las e para garantir a reprodução e multiplicação das variedades de forma coletiva. O pesquisador do CAA/NM, Carlos Dayrell, explica que essa gestão consiste em uma troca de saberes. “A partir das famílias e comunidades onde nós atuamos, identificamos a diversidade de sementes que existe – as que para eles eram importantes, seja do ponto de vista cultural ou econômico, ou as que eles gostariam de ter de volta e por algum motivo perderam – e desenvolvemos estratégias para que eles voltem a ter essas sementes, guardem e tenham um jeito de mantê-las e inclusive distribui-las para outras famílias”. Dayrell ainda explica que essa estratégia tem um componente importante, que é a proposta de que os próprios agricultores e agricultoras tenham o domínio desse processo, para que não seja necessária uma grande interferência de mediação técnica, dando total autonomia para os Guardiões e Guardiãs da Agrobiodiversidade.

Somada a essas Casas de Sementes Comunitárias há, em Montes Claros, desde 2009, na Área de Experimentação e Formação em Agroecologia (AEFA) do Centro de Agricultura Alternativa (CAA/NM), uma Casa Regional de Sementes, que tem como estratégia atual uma Gestão de Compartilhamento da Agrobiodiversidade, para conservação e monitoramento de grande diversidade de sementes crioulas que estão sendo manejadas e conservadas nas Casas de Sementes nas Comunidades do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha.

SEMENTES DO SEMIÁRIDO: Um projeto direcionado para esta ação é o Programa Sementes do Semiárido, da Articulação do Semiárido (ASA), que tem o objetivo de fortalecer 600 casas de sementes no semiárido brasileiro, ação executada em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e o Ministério do Desenvolvimento Agrário. A iniciativa visa beneficiar 12 mil famílias de agricultores e agricultoras. Em Minas Gerais serão 32 casas, espalhadas em 12 municípios, envolvendo 640 famílias. No Norte de Minas, o CAA/ NM será gestor do projeto, que fortalecerá16 casas de sementes, em06 municípios, envolvendo diretamente 320 famílias.

“O projeto de sementes vem ampliar nossa ação na construção da convivência com o semiárido mineiro. É um passo a mais no fortalecimento da soberania e segurança alimentar das famí- Casa de Sementes do Vale lias”, afirma Leninha Alves,da coordenação executiva da ASA. Elisângela Aquino, diretora do CAA/NM, lembra ainda que os programas desenvolvidos pela ASA estão contribuindo com a “grande ciranda que os agricultores e agricultoras estão cantando: a da autonomia”.

Para Anna Crystina, o programa vem para potencializar as ações do CAA/NM e da Rede de Agrobiodiversidade: “A Rede fez um esforço durante um ano e meio, de elaborar um Plano de Ações Estratégicas para a conservação da Agrobiodiversidade frente às mudanças climáticas. Um dos pontos primordiais do Plano é a garantia de estoques de sementes, além de capacitação, sensibilização quanto à importância das sementes crioulas e o fim do uso de sementes transgênicas e agrotóxicos.”, explica.

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