Abril indígena: no Norte de Minas, resistências e ensaios de novas ações
Abril indígena: no Norte de Minas, resistências e ensaios de novas ações

Abril indígena: no Norte de Minas, resistências e ensaios de novas ações

Por Cibelih Hespanhol Torres
Editado por Cibelih Hespanhol Torres

Publicado em 19 de Abril de 2016 às 10:06

      Com sua fala experiente e tranquila de quem já viveu muitas lutas, Hilário Xakriabá analisa o momento político atual pela perspectiva dos povos indígenas. Seu sentimento é de preocupação pela democracia e direitos sociais que se mostram ameaçados. “Enquanto povo, ficamos preocupados. Nossas conquistas estão ligadas à Constituição de 1988, que fez com a que a gente saísse da lama que foi a época da ditadura. Agora vemos esse conservadorismo caminhando de novo”.

     Na terra indígena Xakriabá, maior etnia indígena do estado de Minas Gerais, a luta ainda é pelo pleno acesso ao território tradicional. O retorno às margens do São Francisco, de onde se originam os Xakriabás, é uma bandeira antiga e resistente nas vozes de todos que integram as aldeias. Hilário lembra que o território é requisito essencial para a preservação da cultura, principalmente para as gerações mais novas: “Mesmo que eu não seja mais jovem, eu me sinto criança por dentro quando falo desse entusiasmo de lutar. E quero fazer um chamamento para a juventude para esta reflexão. Cada vez mais acontece de pessoas, principalmente jovens, irem para a cidade, e o impacto cultural é muito grande”.

    Dentro da Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais do Norte de Minas e Alto Vale do Jequitinhonha, os Xakriabás vem vivenciando a empatia do enfrentamento junto aos indígenas Tuxá, quilombolas, geraizeiros, caatingueiros, vazanteiros, veredeiros, apanhadores de flor. A proposta de um espaço de diálogo e direcionamento de pautas comuns à luta por direitos dos povos e comunidades tradicionais é visto por Hilário como um desafio. “Temos passos dados, conquistas, mas ainda precisamos trabalhar para consolidar mais esta luta”.

     Uma das conquistas da Articulação Rosalino, que leva o nome da liderança Xakriabá assassinada em 1987, é a ocupação do povo Tuxá, que viviam como desaldeiados desde a inundação de seu território pela hidrelétrica de Itaparica.

 

Após 70 anos, povo Tuxá conquista e mantem território em Buritizeiro - MG

 

     Originários da Ilha da Viúva, região do São Francisco, os indígenas Tuxá viram seu território tradicional inundado pelas águas da hidrelétrica de Itaparica há cerca de 70 anos atrás. Transferidos para áreas dos estados de Pernambuco e Bahia, se adaptaram ao meio urbano, mas mantiveram vivo o desejo de voltar às suas origens. Em novembro do ano passado, apoiados pela Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais do Norte de Minas, Povo Indígena Xakriabá, Tuxá Kiniopará de Ibotirama/BA, Pataxó, Pankararu, Movimento Geraizeiro, NASCER (Núcleo de Agricultura Sustentável do Cerrado), e outros povos, famílias Tuxá ocuparam a Fazenda Santo Antônio, no município de Buritizeiro, em Minas Gerais. Agora, os parentes que antes viviam sonhando nas cidades começam a retornar, animados pela conquista. “Nosso povo é um dos que sofreu a maior agressão, que é não ter seu território tradicional. Eu acredito, pela força dos encantados, que nosso Pai Celestial é quem nos deu esta terra”, diz Anália Tuxá, comemorando a ocupação dos 6 mil hectares da fazenda, propriedade do Estado de Minas Gerais.

     Cacique, Anália divide com a irmã e pajé Analice a liderança do povo. Com seu jeito cuidadoso de quem fala como quem conta uma história, brinca que o povo Tuxá “é como um papagaio”. “Você pode até domesticar, mas ele não se esquece de onde veio”. O desafio agora, para ela e para muitos, é enfrentar as dificuldades do território conquistado. A ocupação sofre com problemas de acesso a água e com o alto índice de mortandade de peixes do Rio Paracatu. Para Anália, esta situação faz parte do descaso enfrentado por todos indígenas brasileiros, contra o qual se mostra necessário o engajamento político. “O indígena precisa entrar na política também. Tá na hora de sermos atuantes, deixar diferenças de lado e nos unir. Chega de viver calado, beber água suja, perder sua terra. É hora do povo indígena deixar o seu legado”.

Notícias

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