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Braços dados entre Minas e Geraes: em união pela Agroecologia

Publicado em 19 de Outubro de 2016 às 18:00

Braços dados entre Minas e Geraes: em união pela Agroecologia

Fotos: Indi Gouveia

 

O Intercâmbio da Agrobiodiversidade reuniu agricultores e agricultoras da região de Simonésia, Minas Gerais, em dias de visita e trocas de experiências junto a guardiões nortemineiros. Na quinta-feira (13), o grupo formado por agricultores, estudantes de Escola Família Agrícola e técnicos da Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas e do Sindicato de Simonésia se reuniu na Área de Experimentação e Formação em Agroecologia (AEFA) do CAA/NM, onde se apresentaram, conheceram o trabalho realizado pela instituição e dialogaram sobre os desafios colocados para a Agroecologia. A exibição do filme "Semente da Gente" serviu como provocação para diálogos sobre a importância da conservação das sementes crioulas e do trabalho dos guardiões de sementes. Os agricultores intercambistas também lembraram suas próprias histórias sobre sementes cultivadas há décadas e séculos por suas famílias, valorizando as histórias afetivas por trás do ato de guardar e cuidar de sementes. 

Apesar da diferença entre biomas -- a mata atlântica mineira e a região de cerrado, caatinga e mata seca característica dos Geraes -- os participantes do Intercâmbio identificaram semelhanças entre os trabalhos. "O que se fala aqui no Norte é o mesmo que a gente fala lá no sul de Minas. Esta Rede de Agrobiodiversidade está criando uma linguagem só, e a luta também é a mesma" disse José Batista da Silva, agricultor de Simonésia. "Nós temos o mesmo trabalho de resgate, valorização dos agricultores, fortalecimento das organizações. Apesar das diferenças, nossa base é a mesma. É o respeitar e o fazer junto aos agricultores", completou Denise Morone Perígolo, da Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas.

"Semente é alimento, história, resistência", lembrou Rosiellen França, da equipe técnica do CAA/NM. "Plantar semente crioula é saber o que você está colocando na terra, é ter autonomia e guardar um patrimônio". Segundo dados de 2013 do Ministério da Agricultura, 64% dos alimentos consumidos no mundo estão contaminados por agrotóxicos. Além disso, estima-se que 60% da soja e 55% do milho são transgênicos – que, em estudos científicos, mostraram tendência até três vezes maior em desenvolver câncer em organismos. Guardar sementes crioulas é uma forma de garantir segurança alimentar, preservando um patrimônio genético e cultural que pertence a toda humanidade.

Após a visita na AEFA, os agricultores intercambistas seguiram para Varzelândia, onde tiveram contato com experiências de convivência com o semiárido desenvolvidas na casa comunitária da comunidade de João Congo. Conversas e trocas de impressões marcaram o segundo dia de visita ao Norte de Minas e, para quem ficou, o momento foi rico: além da troca de saberes, houve também trocas de sementes. "Com a troca a gente garante que outros agricultores tenham a variedade e caso a gente perca na nossa propriedade, sabemos onde podemos encontrar", explica Ednan Pereira da Silva, agricultor da comunidade de João Congo.

No sábado (15), o intercâmbio conheceu o Território Indígena Xakriabá em São João das Missões, onde puderam visitar as casas de sementes e conhecerem a relação dos Povos e Comunidades Tradicionais com a preservação como parte da sua cultura. "Para os povos indígenas, a semente crioula é a garantia da sobrevivência, porque é a semente que se transforma em alimento. Ela veio dos antepassados e até hoje resiste, mesmo que em pouca quantidade", conta Nicolau Xakriabá, guardião de sementes.

“Quando a gente fica no nosso mundinho a gente não valoriza o que tá lá fora, o que de fato precisa ser valorizado e quando a gente sai e vê as realidades, vemos o quanto é rico e o tanto que podemos ajudar a contribuir com o universo”, apontou Vanilda Rosário Loures Martins, agricultora e terapeuta holística, que vê a experiência como um “reencontro com as origens”, dando importância também ao que ficará para as gerações futuras.

A importância e o cuidado com as sementes também é preocupação da juventude. Camila Teixeira Du Carmo, filha de agricultores, era a mais nova no intercâmbio e para ela a experiência irá servir para mudar hábitos em sua comunidade: “Aqui eles sofrem com o problema da seca, correndo o risco de plantar, não chover e com isso perder aquela que tá no solo, a gente já perde por descuido, por preferir ir ao mercado e comprar o milho do que produzir na própria casa. Vou levar essa experiência para o resto da minha vida, aqui eu vi que a gente deve valorizar não só o produto, mas também o plantio para dar continuidade e não deixar a semente se perder”.

Durante todo o intercâmbio, os agricultores vivenciaram experiências para além do ponto de vista técnico, algo fundamental segundo Denise Perígolo: “Esse intercâmbio foi muito importante para conhecer as experiências do Norte de Minas, tanto nos aspectos técnicos, de produção da semente e de melhoramento, mas também no trabalho social que se deve fazer com as famílias para que elas compreendam a importância da semente como um patrimônio”. Todo o conhecimento compartilhado, além de inspirar os participantes, servirá como continuidade aos trabalhos desenvolvidos em parceria com o Leste mineiro e Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas.

 

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Postado por: Cibelih Hespanhol Torres
Editado por: Cibelih Hespanhol Torres